Prezados irmãos, como é sabido, não fosse a Idade Média não existiriam professores de Universidades, por que não existiriam as Universidades!
Vejamos. Quem fundou as Universidades foi a Igreja, e exatamente na Idade Média. Na Antiguidade nunca houve universidades, muito menos “educação para todos”. O próprio Cristo ordenou aos Apóstolos: "Ide e ensinai". E, por isso, a Igreja sempre ensinou a todos. Como é sabido, a Igreja fundou as Universidades.
Em Salerno, no sul da Itália, surgiu então a primeira faculdade de Medicina. Logo após, surgia a Universidade de Bolonha na qual se estudava inicialmente o Direito. Em Paris nasceu a Sorbonne, na qual ensinaram Santo Alberto, o Grande, São Tomás de Aquino e São Boaventura, entre outros. A Sorbonne ficou famosa como a principal Universidade em teologia e Filosofia.
Em Orleans, a Faculdade se notabilizou no Direito Civil, enquanto em Toulouse se destacaram os estudos médicos. Em Montpellier os estudos de Medicina alcançaram alto nível, rivalizando com Salerno. Havia ainda, na França, Faculdades em Angers, Cahors, Gray e Avignon.
No século XIII as universidades, que já haviam sido criadas, se espalharam por toda a Europa. Na Inglaterra, Oxford e Cambridge. Na Itália, fundaram-se universidades em Vicenza, Reggio, Arezzo, Pádua, Nápoles, Treviso, Pavia, Piacenza, além de Bologna e Salerno, já citada. Em Roma, Siena, e Piacenza tiveram as suas Faculdades. Peruggia Tinha motivo de orgulho por ter uma universidade com muitas Faculdades no século XIV. Havia universidades em Praga, em Colônia.
Na Espanha, fundaram-se universidades em Lérida, Huesca, Salamanca, Palencia, Valladolid. Em Portugal, tivemos a nossa famosa Coimbra. No século XIV fundaram-se universidades em Heidelberg, Viena, Leipzig, Koppenhagen, Rostock, Crakow e Erfurt. Na Hungria nasceram as Universidades de Budapest e Pecz. Na Escócia, surgiram universidades em Glaskow e Aberdeen. Por toda a parte havia Universidades, e o número de estudantes era imenso, e, proporcionalmente maior do que em muitos países, hoje. Consta que em Oxford, ainda no século XII, já havia por volta de 20.000 estudantes.
Na Sorbonne, o número de estudantes no século XIII era maior do que no século XIX. (Cfr. James J. Walsh, The Thirteenth, Greates of Centuries, Catholic School Press, NewYork, 1929, p.59). E o nível dos estudos, naqueles tempos, era bem maior do que hoje. Na Idade Média, havia debates entre filósofos. Quando São Bernardo foi debater com o famoso Abelardo em Sens, multidões de estudantes se deslocaram para assistir a discussão. Jean Cau escreveu certa vez num artigo: "Foi a Idade Média "analfabeta" que produziu Dante e a Divina Comédia, e foi Portugal "ignorante" que produziu Camões (já na Idade Moderna)".
Jean Cau debochava dos ignorantes professores do século XX que acusam a Idade Média de não saber ler e de que a Igreja mantinha o povo na ignorância. Ora, como sabemos, uma grande montanha não surge numa planície, mas surge “acompanhada” de outras, ainda que menores. Um grande intelectual se forma em um ambiente cultural elevado, onde haja muitos homens capazes de entendê-lo, do contrário, ele de nada serve. Dante é a ponta de um iceberg de cultura. E no tempo de Dante até mesmo os carregadores de barcos no rio Arno, em Florença, repetiam de cor os seus versos. Quantos estudantes universitários de hoje são capazes de ler e entender Dante? Desde tempos imemoriais, nas Abadias e nas igrejas paroquiais, havia escolas para os monges e para o povo. Ainda no século XIII, em 1215, o IV Concílio de Latrão estabeleceu que em cada Catedral houvesse uma escola de gramática. O Papa Honório III, sucessor de Inocêncio III determinou que o Bispo que não tivesse estudado a Gramática de Donato devia ser deposto (Cfr. James J. Walsh, The Thirteenth, Greates of Centuries, Catholic School Press, NewYork, 1929, p.30).
É bem conhecido o impulso que Carlos Magno deu às escolas e aos estudos, desde o século VIII e IX. Nas Abadias, foram os monges que preservaram toda a cultura greco-romana, copiando página a página, linha a linha os autores clássicos. Ora, se a cultura clássica chegou até nós, isso se deve à Igreja Católica através dos monges beneditinos. Além disso, os monges copiaram as obras patrísticas, acumulando um tesouro inestimável de cultura. Evidentemente, livros copiados à mão eram caros e raros. Não se conhecia o papel e a imprensa.
Mas todas as Abadias, Mosteiros e conventos tinham as suas bibliotecas. Livros eram caros, e muitos eram copiados em letras de ouro e com ricas iluminuras. Estes livros mais caros eram, por vezes acorrentados nas estantes para evitar roubos. Daí a lenda das Bíblias acorrentadas que deviam ser lidas no local das bibliotecas sem poderem ser retiradas delas. Mas havia um sistema de empréstimo de livros para consultas. Houve uma determinação de um Concílio de Paris, em 1212, sobre o empréstimo de livros como obra de caridade (cfr. Joan Evans, The Fowering of the Middle Ages, Thames and Hudson, London,1966 pp. 193-195). Como vemos de maneira clara, é falsa a alegação da ignorância da Idade Média. Para alguns tolos, a cultura nasceu de repente, no Renascimento, que na verdade, foi a morte de muitas coisas, já que foi ele que trouxe de volta o paganismo com seus vícios e com a escravidão.
Não o bastasse, foi na Idade Média que foram criados os vitrais. A inteligência humana é feita para contemplar a Verdade divina, mas ficaria "cega" se a contemplasse diretamente, porque a Luz de Deus, a Verdade divina, o Verbo, Sol da Verdade e da Justiça é infinito, e não podemos abarcá-lo. Entretanto, Deus se encarnou, o Verbo, Verdade de Deus se fez homem, e pudemos contemplá-lo diretamente, sem ficarmos cegos porque a Luz da Divindade, n’Ele, estava velada pela humanidade de Cristo. Por isso, a Idade Média inventou o vitral. Pelo vitral, podemos contemplar a luz do sol sem que fiquemos cegos. E a luz do sol passa pelo vitral sem parti-lo.
Foi por amar a Luz que a Idade Média criou os vitrais. Devido ao cruzamento dos arcos em ogiva, a parede perdia sua função de sustentação, podendo então ser substituída por janelas: os vitrais. Deus fez o olho humano de tal forma que não conseguisse fixar diretamente o sol. Todavia, vemos sua luz multicolorida que transpassa o vitral sem o danificar. Que belo símbolo da Sempre Virgem Maria, a única que pode ver Deus diretamente, pois é Imaculada, e que o Verbo de Deus nela se fez carne deixando-a intacta. Assim, canta a Igreja honrando nossa Mãe puríssima: “Inviolata, íntegra et casta es Maria, Quae es effecta fulgida caeli porta” (Inviolada, íntegra e casta és tu Maria, que és a porta fulgurante do Céu”. Foi por amar a Luz que a Idade Média criou os vitrais, para que a luz pudesse irradiar as igrejas e por conseguinte, seus fiéis.
Foi por amar a Luz que a Igreja criou, Idade Média as Universidades. Para iluminar não só com a luz do sol, mas também com a Luz da Verdade. Seria ignorância nossa, querer chamar tão bela época de Idade das Trevas. Só quem tem aversão à Luz pode dizer tal coisa. A Idade Média é a Idade da Luz.
In corde Maria, Mater Ecclesiae, semper, Rangel.