Imagens na Igreja Católica...

Provavelmente você já ouviu alguém indagar: se no primeiro mandamento da lei de Deus foi proibido fazer imagens, por que a Igreja Católica permite fazê-las? Como nos recordamos, o primeiro mandamento da Lei dada por Deus a Moisés, no Sinai, diz: "Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, e do que há em baixo na terra, nem do que nas águas debaixo da terra. Não adorarás tais coisas, nem lhes prestarás culto." (Ex. XX, 3-5 e Deut. V, 8). No Deuteronômio Deus repete essa proibição, dizendo: "Não farás para ti, nem levantarás nenhuma estátua, coisas que o Senhor, teu Deus, aborrece." (Deut. XVI, 21). Baseados nesses textos da Bíblia, protestantes de todos os naipes - repetindo a heresia dos iconoclastas - acusam a Santa Mãe Igreja Católica de não acatar a ordem de Deus, já que permite que se façam esculturas e imagens de Cristo e dos santos, para veneração dos seus fiéis. Esse raciocínio herético peca, já que isola esses textos dos demais. Se houvessem apenas essas duas frases na Escritura a respeito de imagens, eles teriam razão. Acontece que o mesmo Deus que deu essa lei em outras passagens disse o contrário, pelo menos aparentemente. Vejamos: No mesmo Êxodo, quando Deus, cujo primeiro mandamento proibira fazer esculturas do que há no céu, mandou fazer a Arca da Aliança para que nela se guardassem as tábuas da Lei, dizendo: "Farás também dois querubins de ouro batido, nas duas extremidades do oráculo. Um querubim esteja de um lado, o outro do outro. Cubra ambos os lados do propiciatório, estendendo as asas e cobrindo o oráculo, e estejam olhando um para o outro com os rostos voltados para o propiciatório, com o qual deve ser coberta a arca, na qual porás o testemunho, que Eu te hei de dar. De lá te darei as minhas ordens, em cima do propiciatório e do meio dos querubins, que estarão sobre a arca do testemunho, e te direi todas as coisas que por meio de ti intimarei aos filhos de Israel" (Ex. XXV, 17-22). Este mesmo texto é repetido em Ex XXXVII, 7. Ora, se Deus proibira fazer "figura alguma do que há em cima do céu", como é que depois manda fazer as figuras de dois querubins, determinando colocá-los exatamente sobre a arca em que se guardaria a Lei que proibia fazer estátuas? Aparentemente é uma contradição, e em Deus não pode haver cotradição. Logo, deve haver uma explicação para fazer estátuas. Qual? Há ainda várias outras passagens em que Deus ordenou que se fizessem esculturas. Eis algumas: No Livro dos Números, quando os judeus se rebelavam contra Deus porque Ele os tirara do Egito, Deus os puniu, castigando-os com serpentes. E o povo rogou a Moisés que intercedesse a Deus por ele, dizendo: "Roga [a Deus] que afaste de nós as serpentes. E Moisés orou a Deus pelo povo, e Deus disse a ele: " Faça uma serpente de bronze, e põe-na por sinal; e aquele que, sendo ferido, olhar para ela, viverá. Moisés fez, então, uma serpente de bronze e pô-la por sinal; e os feridos que olhavam para ela, saravam." (Num. XXI, 7-9). Mais uma vez: se Deus proibiu fazer figuras e esculturas do que havia sobre a terra, como então ordena que Moisés faça uma serpente de bronze? E, mais, quem olhasse para a serpente era curado, ocasionando aos judeus mais rústicos a idéia, que poderia ser uma tentação, de considerar que na serpente de bronze havia algo de espiritual ou divino capaz de curar. Haveria contradição em Deus? Claro que não. Então existe explicação para isso: Deus proibe fazer imagens e Deus manda fazer imagens. Uma delas, uma imagem de serpente que curava caso fosse olhada. Vejamos ainda, de passagem, que na Bíblia se admitem intercessores humanos diante de Deus, ao contrário do que erradamente ensinam os protestantes de todas as seitas, que não admitem intercessores e, por isso julgam a Igreja Católica. Quando Deus mandou fazer o Templo, ordenou que se fizesse um mar de bronze, isto é, uma grande bacia de bronze, e disse: "e [o mar] estava assente sobre doze bois, três dos quais olhavam para o setentrião, três para o ocidente, três para o meio dia e três para o oriente, e o mar estava em cima deles; as partes posteriores deles escondiam-se todas para a parte interna" (I Reis, VII, 25). Como explicar que o mesmo Deus que proibira à Moisés, no Monte Sinai, fazer esculturas do que existe sobre a terra, mande fazer doze bois? Afinal, é probido ou não fazer esculturas? Quão grande confusão fazem os protestantes lendo apenas uma frase isolada da Bíblia, e esquecendo-se de propósito, o que dizem as outras. Descrevendo o mar de bronze, diz a Bíblia: "O trabalho da base era a cinzel e havia esculturas entre as junturas. Entre as coroas e festões havia leões, bois, querubins e também nas junturas da parte de cima; debaixo dos leões e dos bois pendiam como que umas grinaldas de cobre." (I Reis, VII, 28-29). No I Livro das Crônicas ou I Livro dos Paralipômenos se lêem outras particularidades das esculturas que Deus ordenou que fossem feitas por ordem de Salomão para o Templo de Deus, em Jerusalém: "Pôs no oráculo dois querubins feitos de madeira de oliveira., de dez côvados de altura"(...) "adornar todas as paredes do Templo em roda com várias molduras e relevos, figurando nelas querubins, palmas e diversas figuras, que pareciam destacar-se saindo da parede" (...) "Nestas duas portas de madeira de oliveira entalhou figuras de querubins, palmas, relevos de muito realce de ouro tanto os querubins como as palmas, e todas as outras coisas" (...) "esculpiu nelas querubins palmas e relevos muito salientes; "(I Cr. V, 23-24; 29; 32; 35). "Também para os garfos, copos, turíbulos de ouro puríssimo, para os leõezinhos de ouro, segundo os seus tamanhos, destinou o peso de ouro para cada um dos leõezinhos. Do mesmo modo, para os leões de prata, separou outro peso de prata. Para o altar, em que se queima o incenso, deu do ouro mais fino, para que dele se fizesse a figura dum carro de querubins, que estendessem as asas e cobrissem a arca da aliança do Senhor" (I Cr. XXVIII, 17-18). Quando a Arca da Aliança caiu nas mãos dos filisteus, Deus os puniu com uma praga. E para se livrarem dela, os filisteus consultaram os seus advinhos, que mandaram que eles fizessem cinco objetos de ouro representando a parte de seu corpo ferida pela praga, e cinco ratos de ouro, colocando esses objetos junto com a Arca da Aliança, sobre um carro de boi, deixando-o livre para partir. E o carro foi em direção dos judeus, que recuperaram a Arca. Ora, o fato de que Deus atendeu os filisteus, curando-os, comprova que Ele aceitou a dádiva dos cinco ratos de ouro e dos cinco objetos representando a parte ferida pela praga. Portanto, nem sempre as esculturas são condenáveis. Todas essas citações comprovam que, se Deus proibiu fazer esculturas e imagens no primeiro mandamento, Ele mandou, em outras ocasiões, e por diversas vezes, que se fizessem esculturas e figuras. Senão o fosse, como explicar, repetimos, essa aparente contradição, já que em Deus é impossível que haja contradição? A explicação não é de difícil compreensão. Há dois tipos de proibições: as proibições absolutas e as proibições relativas. Assim, se Deus proibiu fazer imagens e, depois, por diversas vezes, mandou fazer imagens, como em Deus não pode haver contradição, conclui-se que a proibição de fazer imagens é relativa e não absoluta. Deus proibiu fazer imagens para adoração. Deus nos proibiu fazer ídolos, e não fazer imagens. Por isso a Igreja, que compreende e aceita tudo o que Deus disse na Sagrada Escritura e que não isola uma frase de outra, mas harmoniza a todas, a Igreja sempre permitiu o uso de imagens e sua veneração, mas nunca a sua adoração. Aliás, qualquer protestante, na prática diária, desobedece o que eles dizem ser a verdadeira interpretação do primeiro mandamento, porque tiram fotografias de si e de seus parentes, guardam-nas e, se têm carinho por uma pessoa, até beijam sua foto. Se eles cressem mesmo que é proibido fazer imagens, nunca poderiam tirar fotos de nada. E nem ter espelhos em casa, porque em cada espelho se formam suas próprias imagens. Nem poderiam ter filhos, porque cada homem é feito à imagem de Deus. E haveria muito mais a dizer. Penso que isto basta. Tendo outras dúvidas ainda sobre este tema e outros parecidos, escrevam-nos, responderemos com prazer.

In corde Jesu, semper, Rangel Alves.